Oficinas como dispositivo na formação de professores: produção discursiva sobre sexualidade
Resumo
Essa pesquisa apresentou como desafio pensar como as operações de poder e de saber funcionam, nos discursos de professores e futuros professores, diante de questões que abordam sexualidade. O desejo de pensar nessa direção está relacionado a inquietações que buscam refletir sobre papéis destinados aos professores, tal como, o de fazer funcionar, na escola, saberes considerados necessários, mediante dispositivos como políticas públicas, em especial, as que sinalizam o tratamento de questões de sexualidade, em sala de aula, pelo professor. Para tanto, foram realizadas oficinas sobre sexualidade com onze acadêmicos do curso de Ciências Biológicas da UFSM e dezoito professores de uma escola estadual de Santa Maria/RS. As oficinas foram conduzidas mediante a abertura de espaços de conversação, de falar sobre, de acolher e suscitar problemas a partir da diversificação de saberes particulares e coletivos. Os materiais, utilizados nesse contexto, foram: a) o filme O Beijo no Asfalto (1981), baseado na obra de Nelson Rodrigues, que mostra a transformação da vida de um homem a partir de um beijo em outro homem; b) trechos da obra Mulheres que amam demais , de Robin Noowod (1995), a qual apresenta os dramas de mulheres e seus relacionamentos amorosos; c) o Kit escola sem Homofobia , parte de ações do Governo Federal para que o contexto escolar abra espaços para falar sobre sexualidade; assim como d) reportagens de sites de internet que mostram a repercussão do Kit no contexto social. Com o grupo de professores da escola, além de trabalharmos com esses materiais, conversamos sobre o curta metragem Não gosto de meninos (2011), dirigido por André Matarazzo e Gustavo Ferri, o qual apresenta relatos de pessoas sobre como lidam com a homossexualidade tanto no contexto familiar quando no social. A partir dos discursos dos participantes, foi possível perceber que a busca de respostas prontas para lidar com questões de sexualidade ou a procura de formas mais adequadas de falar sobre sexualidade podem ser refletidas a partir do que Foucault (1999a) apresenta sobre a mesma, ou seja, que a sexualidade se trata de um dispositivo histórico, que penetra nos corpos de maneira detalhada, controlando as populações numa perspectiva cada vez mais global. O dispositivo, nesse sentido, é indicado como um conjunto de estratégias de poder e saber, que se entrelaçam a discursos precisos, produzem verdades e efeitos destas verdades. Dessa maneira, a forma como construímos nossos modos de ser e estar no mundo podem ser compreendidos como efeitos dessas redes de poder e saber que operam em nossos corpos e nos conduzem a formatos como ideal de professor, de aluno, de relacionamentos, etc. A escrita dessa pesquisa permite mostrar como a caminhada desse trabalho provocou surpresas, desafios e transformações a partir de trocas de pontos de vista e da construção de significados em conjunto durante as oficinas.