A formação [vocal] do sujeito [contratenor]
Abstract
A presente dissertação integra os trabalhos do grupo de pesquisa Floema Núcleo de estudos em estética e educação - e vincula-se à Linha de Pesquisa Educação e Artes (LP4) do Programa de Pós-Graduação em Educação (PPGE) da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM). A pesquisa trata da formação vocal do sujeito contratenor, partindo da discussão acerca do natural e do não natural no uso do falsete e na voz de contratenores, a qual envolve a problemática do trabalho com essa classificação vocal na formação de cantores, especialmente, em cursos de graduação em Música no Brasil. Para tanto, teve como objetivo geral analisar a voz de contratenor e o falsete no que tange à naturalidade e a não naturalidade da voz e suas implicações na formação de cantores. Como objetivos específicos, buscou identificar as razões para que haja resistência ao trabalho nos cursos superiores de Música com a voz de contratenor, bem como conhecer os motivos da resistência ao próprio trabalho com a identificação dessa classificação vocal. A orientação da pesquisa apresenta enfoque qualitativo, baseado na abordagem e método autobiográfico. Os dados constituíram-se de fragmentos da trajetória pessoal e profissional do pesquisador como contratenor. Assim, foi realizada uma apresentação e contextualização histórica acerca da voz do contratenor e do falsete. Para pensar a voz e sua performance, fundamentou-se, principalmente, nos estudos de Zumthor (1993; 2005; 2010; 2014), que versam sobre a complexa gama de significados e possibilidades da voz. Partindo desses estudos, discutiu-se o que é natural e o que é chamado de não natural na voz, adentrando os conceitos de natureza e cultura tendo por base os estudos antropológicos (LÉVI-STRAUSS, ERIBON, 1990; LÉVI-STRAUSS, 2009; entre outros) e passando por estudos de Looser (2005) e de Linklater (2006 [1976]). Esses estudos, somados aos de diferentes áreas como Música, Fonoaudiologia e outras ciências da voz, possibilitaram compreender as razões pelas quais há resistências à voz de contratenor e ao falsete na voz masculina e a própria identificação dessa classificação vocal nos contextos pesquisados. Nesse processo, problematizou-se também a própria formação vocal de cantores, partindo da compreensão da voz como dimensão subjetiva e constitutiva do sujeito.