Governamento das famílias: a produção do aluno “problema” no discurso escolar
Resumo
A presente Dissertação, Governamento das famílias: a produção do aluno problema no discurso escolar, insere-se no campo de estudos que pretendem desnaturalizar as relações estabelecidas entre a escola e a família - constituições sociais, históricas e culturais - que
servem como estratégias de gestão da população. Com base nos discursos que circulam na escola, provindos principalmente do Livro de Registros do SOE, a pesquisa aponta para as estratégias operacionalizadas na escola, no sentido de controlar, normalizar, governamentar,
disciplinar e regular as condutas dos alunos e de suas famílias. Tal empreendimento analítico foi constituído a partir da perspectiva dos Estudos Culturais, de vertente Pós-Estruturalista. As principais ferramentas conceituais adotadas são as noções foucaultianas de poder disciplinar e
governamento, bem como a noção de norma, empregada por Ewald (1993). Mostrei por meio da análise desses discursos que a escola utiliza os instrumentos disciplinares vigilância
hierárquica, sanção normalizadora e exame para governamentar e disciplinar a conduta dos alunos e seus familiares. A partir dessa estratégia, a escola acaba produzindo alunos problema , que são cada vez em maior número. Outra estratégia percebida nos discursos que
circulam na escola foi a do gerenciamento do risco. Ela funciona a partir da detecção de um fator de risco. Disso decorrem ações que visam a prevenção e/ou o gerenciamento dos possíveis riscos evasão, reprovação, fracasso escolar. Nesse processo, estão envolvidos experts, que atuam tanto dentro quanto fora da escola. Eles dão uma caução científica,
identificando fatores de risco, bem como tratando tais fatores. A partir da identificação dessas estratégias operacionalizadas pela escola, foi possível perceber um movimento de mão dupla com a família. Ela é chamada à escola para gerenciar o risco, mas também é alvo desse
gerenciamento. Desse modo, a família também é governada pela escola. Os discursos mostram ainda que esse movimento se dá na busca da ordem. A pesquisa propõe também
algumas problematizações sobre esta relação entre a família e a escola na contemporaneidade. A partir dessas considerações, é possível perceber que a vigilância não se remete somente ao aluno, mas busca, também, tornar a família um objeto constante do olhar. Ocorre assim a
inscrição da família em uma crescente rede discursiva que esquadrinha e retalha as relações familiares. Nesse sentido, esses espaços tornam-se o locus de exames e diagnósticos de
condutas que estariam implicadas na produção de uma suposta disfuncionalidade do comportamento do aluno.