Professores e ensino médio brasileiro na revista Educação/UFSM: um arquivo sobre a produção de sujeitos na governamentalidade neoliberal
Resumo
Esta tese buscou analisar uma série de artigos da revista Educação, publicada no Centro de Educação (CE)
da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) e uma seleção de documentos oficiais brasileiros sobre a
educação, com o objetivo de produzir um arquivo – entendido desde o ponto de vista da arqueologia
foucaultiana – que me permitisse pesquisar as condições de possibilidade históricas das narrativas sobre os
professores do ensino médio brasileiro e seu entorno de trabalho, assim como também analisar como essas
narrativas fizeram circular discursos sobre estes sujeitos e seu contexto profissional. Ao operar com este
arquivo contextualizando-o na governamentalidade neoliberal, busquei mostrar as relações de poder que
atravessaram as práticas dos professores e contribuíram para a produção dos processos de subjetivação
desses docentes. Desta forma consegui atualizá-lo de maneira a problematizar como se estabeleceram
determinados regimes de verdade que dizem sobre quais são as capacidades necessárias para ser um
professor na contemporaneidade, assim como também dizem sobre quais são as condições nas que estes
professores devem desempenhar suas práticas. As produções discursivas da revista tiveram como marco
referencial o ambiente acadêmico, e, portanto, precisaram, de certa forma, acomodar-se ao entorno dado
pelo sistema educativo de suas diferentes épocas. Para este trabalho foram escolhidos como materialidade
os artigos publicados na revista Educação/UFSM entre o ano de 1975 e o primeiro semestre do ano de 2018,
sendo um total de novecentos e nove textos, dos quais foram selecionados quarenta e dois artigos para
compor o corpus da pesquisa. Também formou parte desse corpus uma seleção de leis e diretrizes
vinculados direta e indiretamente ao nível do ensino médio, que foram promulgados durante o período antes
mencionado. A inspiração teórica e metodológica da pesquisa foi a arqueogenealogia de Michel Foucault,
e mediante esta inspiração procurei, primeiro construir um arquivo entendendo que a revista colocou em
circulação uma série de discursos que determinaram as condições de produção da função docente no ensino
médio; para em segundo lugar operar com esse mesmo arquivo de maneira a produzir uma emersão
genealógica capaz de mostrar as relações de poder que aconteceram e produziram as subjetividades docentes
contemporâneas, contextualizadas em uma determinada situação sociopolítica e econômica global dada pela
governamentalidade neoliberal. Denominei professores empreendedores precarizados a aqueles docentes
que imersos em uma governamentalidade neoliberal e neoliberalizante, produzem-se como empresários de
si, que em condições precárias, trabalham numa sociedade que lhes exige que carreguem a responsabilidade
do sucesso educativo desta última. Almejo que a problematização que esta tese propõe possa funcionar
como mais uma ferramenta na tarefa de pensar-se professor na contemporaneidade e que, talvez, mediante
a discussão e a reflexão sobre este tema, possam produzir-se maneiras alternativas de constituir-se como
docente. A pesquisa foi realizada na linha de pesquisa Práticas Escolares e Políticas Públicas (LP2) do
Programa de Pós-Graduação em Educação (PPGE) da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), e
contou com o apoio financeiro do Programa de Demanda Social (DS-CAPES) e do Programa de Doutorado
Sanduíche no Exterior (PDSE-CAPES) da Coordenadoria de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior
(CAPES).
Coleções
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