Educação e barbárie: formação de professores na prevenção a catástrofes
Resumo
Propõese
que a reconstrução da teoria da barbárie de Walter Benjamin (18921940)
permite avaliar
coerentemente algumas das premissas pedagógicas que deram amparo ao autoritarismo e às diferentes
catástrofes que daí se derivaram no interior da história recente. Em termos metodológicos, a
reconstrução é feita com base na própria sugestão do filósofo judeualemão
de que a história não é
mais apresentada como o encadeamento contínuo e linear de eventos, de acordo com os relatos
dominantes, senão que a partir de cortes e intervenções precisas que direcionam o modo de contar
estes mesmos eventos. A proposta se articula com base na relação entre a alegoria do drama barroco,
sua representação teatral subjacente e a escola como palco destas representações. Nossa primeira
hipótese é que o drama barroco não só serviu para impor um tipo de representação teatral, senão que,
de igual sorte, determinou o modelo de escola que se desenvolveu no mesmo período com a Igreja
católica, a protestante e o estado moderno; e que foi redimensionado, numa espécie de nova catequese,
com as cartilhas ilustradas e os livros didáticos da moderna industrialização. A segunda hipótese é a de
que a alegoria barroca, além de demarcar uma estrutura autoritária que, no teatro e na escola,
reproduzia uma mensagem fixa, retirada da seleção de fragmentos bíblicos agrupados arbitrariamente
de forma linear, e que visavam consolar com a promessa de salvação futura, forneceu elementos que
vieram a configurar as diferentes versões do mito fundador brasileiro. Por isso, de modo análogo ao
que Benjamin equivale a pedagogia do drama barroco e a da industrialização moderna, reconstruímos
alguns aspectos da história da educação brasileira, tomando por base o barroco colonial e o
subsequente período industrial. Entre os resultados alcançados, destacamse
os seguintes. Primeiro, que
há uma vinculação entre a alegoria barroca em suas diferentes versões e as catástrofes contemporâneas.
Segundo que o esquema da alegoria barroca proliferou na educação jesuítica e nas pedagogias
modernas, provocando a relação autoritária entre uma mensagem fixa a ser transmitida e um
expectador passivo. Terceiro, em sentido prospectivo, que é possível redimensionar uma nova alegoria
em que ela não mais veicule uma mensagem, mas proponha um enigma a ser decifrado, ou
simplesmente uma forma alegórica sem sentido dado, que sirva para despertar no expectador a
necessidade de redimensionar os sentidos.
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