O uso da multimistura no contexto da segurança alimentar
Resumo
Significativa parcela da população brasileira se encontra em estado de desnutrição e algumas entidades de assistência social têm promovido o uso da multimistura como suplemento alimentar no intuito de reverter esta situação. Os resultados divulgados pelas entidades difusoras da multimistura são bastante satisfatórios, porém, os trabalhos científicos desenvolvidos com a finalidade de avaliar a eficácia da multimistura têm demonstrado fragilidade nos argumentos utilizados em favor desta. Outras restrições quanto ao uso da multimistura como suplemento alimentar são as presenças de alguns fatores tóxicos e/ou antinutricionais e as condições higiênico-sanitárias empregadas no processo de elaboração destas. O objetivo deste trabalho foi avaliar a composição química e mineral e as condições higiênico-sanitárias de vinte formulações de multimisturas. Através de um ensaio biológico com ratos de laboratório, foram avaliadas três formulações de multimisturas quanto à qualidade nutricional. Fibra alimentar e minerais destacam-se nas multimisturas, porém, a suplementação em 5% da dieta, apenas permite caracterizar 65% das amostras como fonte e 10% como de alto teor de manganês, considerando a Ingestão Diária Recomendada para crianças de até 10 anos de idade. Glicosídios cianogênicos, aflatoxinas, acidez e o processo oxidativo, praticamente não foram detectados nas amostras e quando foram, estiveram de acordo com as determinações da legislação. Contagens de microrganismos acima dos limites da legislação para alimentos infantis foram observadas em 50% das amostras. A complementação da dieta com a multimistura que aliou nutrientes de leguminosas e gramíneas proporcionou melhor resposta biológica do que as multimisturas com maior proporção de farelos e/ou nutrientes energéticos.